sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Entrevista com servidor frustrado

Entrevistei meu amigo Tiago Amaro, que é bibliotecário assim como eu. Nesse pequeno relato, pude me identificar em vários momentos. Infelizmente a burocracia do serviço público afeta mais pessoas do que a gente imagina. Durante muito tempo tentei ser indiferente a isso, mas hoje não consigo mais esconder minha insatisfação com o modelo de administração pública que temos. Estamos juntos nessa, Tiago! Vamos começar a procurar alternativas?

1. Você se considera um servidor frustrado, por que?

Sou Bibliotecário-Documentalista em uma instituição de ensino superior. Se sou frustrado? Sim, e muito. Mas minha frustração começa já na minha profissão. Há dez anos sou bibliotecário e, pra ser honesto, já deveria ter feito outro curso e saído dessa vida. Mas me disseram que no serviço público a coisa iria melhorar. Não, meu caro, não melhorou nada. Acordar, trabalhar, "trabalhar", voltar para casa e repetir a rotina no dia seguinte. Adicione à isso, o fato de estar em um campus em implantação aonde falta tudo (já disse que faltou água e ficamos 3 dias sem trabalhar?). Nunca tive uma visão maravilhosa do serviço público mas, de dentro, a visão é ainda pior. Claro que existem locais aonde as coisas são diferentes, mas dentro do Executivo e na área de educação eu me pergunto todos os dias: o quê estou fazendo aqui? 
Mas você se acomoda. Tudo fica muito programadinho, você não tem riscos e, pra ser honesto, se souber gastar seu dinheiro, não ganha mal (ainda mais considerando os salários pagos pelo mercado). Quem vai querer, por mais insatisfeito que esteja, sair de uma vida dessas? Pois é, também caí nesse conto do vigário e estou aqui até hoje..aliás, na verdade, como concursado, ainda farei um ano de serviço público, mas já fui comissionado por 5 anos em um órgão e mais 1 ano e pouco em outro. 
Mas resumindo minha resposta que já se alongou muito: sim, eu sou um servidor frustrado, fazendo o que não gosto, numa profissão que não gosto (culpa dos meus professores que sempre disseram que a Biblioteconomia era a profissão do futuro) e me sinto inerte para mudar esta situação.

2. Qual seria um ambiente ideal de trabalho para você?

Vou tomar por base meu ambiente de trabalho. O ambiente ideal seria um de valorização da biblioteca, com os projetos sendo pontos em prática, com mais profissionais contratados, aonde a parte técnica fosse repassada para outras pessoas (técnicos em biblioteconomia ou bibliotecários que gostem mais da parte técnica) e os coordenadores ficariam à cargo dos projetos de gestão e suas fases. Não seria necessário ficar esperando licitações de seis meses para comprar livros que os alunos não iriam aproveitar, a subordinação seria direta ao reitor e não a uma coordenação que nem deve saber o que é cutter (e nem tem obrigação disso). Ah, claro, a coordenação acadêmica de fato iria valorizar o trabalho da biblioteca e não ficaria naquele discurso de que a biblioteca é importante quando você percebe que na verdade, tanto faz.

3. Qual seria o ambiente ideal de trabalho para você no serviço público?

Ambiente ideal para mim no serviço público compreenderia um trabalho de 6h a 7h corridas, aonde fosse possível dar mais dinamismo ao serviço e cortar muito da burocracia que impera. Aonde não haveria estabilidade, o que faria com que muita gente tivesse um pouco mais de vontade de servir ao público e que faria pessoas que usam o serviço público como trampolim para outros concursos pensarem duas vezes antes de fazer isso. E, principalmente, faria com que acabasse essa forçação de barra de que apenas o serviço público é o local de vida feliz. Não é! Serviço público não pode ser encarado apenas como um bom salário que você recebe ao final do mês, tem muito mais coisa envolvida, principalmente o fato de você ter que servir ao público e não se servir do público. Se essa visão fosse mais difundida,  de repente, eu não fosse um servidor frustrado que pensa seriamente em sair do serviço público e voltar à iniciativa privada.  

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